domingo, 19 de abril de 2009

Anônimos e famosos dividem o mesmo espaço na web



Sites como MySpace e Trama Virtual proporcionam a democratização musical
Belissa Nogueira e Thiago Paião

Com o surgimento dos meios de comunicação de massa foram abertas novas frentes de batalha para músicos e compositores. O desenvolvimento tecnológico teve ampla influência na música, em seus meios de produção, distribuição, em seus estilos e tendências.

Antes do gramofone, do rádio e da televisão, a única forma de passar a música a outro músico era a escrita, sendo que as partituras eram feitas manualmente. Na gravação, quando se executava a composição e ela se perdia no espaço de tempo, ela somente seria recuperada se mais uma vez fosse interpretada. Com o surgimento dos meios de gravação, a música pôde ser registrada e passada à frente do jeito próprio de cada compositor, além de facilitar a produção de cópias de modo quase instantâneo.

E assim, com a tecnologia, a “guerra” se iniciou entre os novos músicos, deixando-os em uma luta avas­saladora por reconhecimento, dife­renciação e qualidade mu­sical. Mas, por outro lado, as bandas regionais de diversos estilos, que não possuem seus trabalhos no mercado co­mercial, acham, nos sites de relacionamentos e sites espe­cializados, um meio de divulgar sua produção.

O professor de música de Conceição das Alagoas e 1º tenente regente da banda da Polícia Militar, compositor e formador da banda do 17º Batalhão da PM de Uberlândia, Onofre da Costa Pimenta, comenta que não há muitas melhorias em relação à tecnologia no seu trabalho, já que se trata de uma atividade com fins educativos relativamente simples. “A tecnologia seria mais necessária no modo de ensinar, pois nós usamos instrumentos acústicos, de sopro e percussão e a divulgação é feita à moda antiga. Conceição é uma cidade pequena, onde todo mundo conhece nosso trabalho“, diz o professor.

Pimenta explica que antigamente o rádio era muito importante para os cantores, compositores e conjuntos porque era o único meio de divulgação que chegava a todas as classes sociais. “O rádio foi o grande divulgador da Música Popular Brasileira (MPB). Grandes cantores como Nelson Gonçalves e Ângela Maria tinham contratos com a antiga rádio do Rio de Janeiro, gravavam seu disco de vinil e divulgavam através da rádio, que era o meio de comunicação da época, antes do surgimento da televisão.”
Com o advento da televisão, os cantores mais famosos tiveram um espaço especial em programas, que os lançaram quase que perma­nentemente como ídolos musicais que se sobressaem até hoje na nova geração. Mas os mesmos programas, que fixaram na história cantores como Elis Re­gina e Chico Buarque, lan­çaram con­cur­sos musicais que abriram espaço para mais cantores e bandas que também fizeram sucesso e badalaram épocas.

Bandas de fundo de garagem, ou até mesmo cantores de barzinhos que escutamos tomando um copo de cerveja, possuem uma história, e todos sonham um dia receber o reconhecimento de todo o trabalho árduo que tiveram. A cada dia, o reconhecimento pode estar mais perto e, ao mesmo tempo, um tanto quanto longe de se tornar realidade. O amor e o talento em relação à música é algo que nasce e, às vezes, é construído com as pessoas. Quem nunca foi cantor ao menos uma vez enquanto tomava um demorado banho de chuveiro?

Muitos músicos nasceram, ascenderam e desapareceram com o tempo, mas deixaram gravados em discos, CDs ou até mesmo em fitas “demo” suas obras. Qual seria o verdadeiro valor da arte que chamam de música? John Cage, baixista da Velvet Underground, banda norte americana de \o “Vanguarda” na década de 60, caracterizados por um estilo \o “Rock experimental”, pouco comercial para a época, afirmou certa vez que até o silêncio é música, apresentando uma obra feita da ausência total de som.

Mas foi-se a época dos grandes discos de vinil, do CD e de esperar sua música predileta passar na rádio para que você pudesse gravá-la em uma fita. Hoje, com um simples clicar do mouse você baixa álbuns completos dos seus cantores e bandas preferidos. A tecnologia não veio apenas para melhorar as coisas, mas sim para sacudir o mundo no qual apenas o que importava era o talento e o amor pela música. Fernando Borges, professor particular de guitarra em Uberaba e guitarrista da banda Fernando Borges e Quarteto, diz que a influência da tecnologia em seu trabalho é apenas para divulgação. “Quando a banda vai tocar, nós disponibilizamos as datas com antecedência em alguns sites de relacionamento, como myspace e Orkut, o que ajuda na divulgação dos shows”, afirma Fernando.

Excesso de informação na internet, às vezes, atrapalha pela quantidade de dados que é lançada, dificultando o reconhecimento de alguns trabalhos musicais e até mesmo o surgimento de novas bandas e tendências. Fernando diz que se a procura não for focada em certo assunto, a confusão pode ser tanta que a busca pode ser em vão. “Eu gosto quando a divulgação é feita no jornal, por exemplo, o que dá mais resultado por ser um meio mais específico do que a internet.”

Essa facilidade imposta pela internet faz com que cada vez se possua mais álbuns de uma grande diversidade musical e se aprecie cada vez menos o que se escuta, deixando a dúvida sobre o lado bom dessa evolução.

Segundo Fernando, como educador, sua missão com o aluno é indicar os caminhos a serem percorridos, mostrar onde está a informação e de que forma ela pode ser utilizada. “Eu tento filtrar a informação que chega até eles, mas eu não sou a pessoa que mostra alguma coisa”, afirma. É necessário que a informação certa chegue até o aluno certo, dentro de seu nível de capacitação e entendimento.


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